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A prática da Constelação Familiar ganhou destaque como um método terapêutico amplamente difundido, prometendo resolver traumas, conflitos familiares e até questões empresariais. Entretanto, sua aplicação no campo da Psicologia tem levantado debates sobre ética, adequação técnica e consonância com os preceitos científicos da profissão. Este artigo explora as origens, os princípios e os desafios dessa prática no contexto profissional psicológico, abordando questões fundamentais para orientar profissionais, pacientes e a sociedade em geral.
Índice
ToggleO que é a Constelação Familiar?
Criada por Bert Hellinger, a Constelação Familiar baseia-se em três "Ordens do Amor" que regem as relações familiares:
- Pertencimento : Todo membro de um sistema familiar deve ser reconhecido e incluído.
- Equilíbrio entre Dar e Receber : As relações humanas devem buscar reciprocidade, especialmente entre pais e filhos ou entre parceiros.
- Hierarquia : Respeitar a ordem de origem dos membros no sistema familiar.
Esses princípios, segundo Hellinger, são leis naturais que, quando violadas, geram emaranhamentos psíquicos e consequências intergeracionais. O método busca identificar e resolver essas dinâmicas ocultas em sessões terapêuticas que podem incluir representações simbólicas por meio de grupos ou objetos.
Constelação Familiar e Psicologia: Um Terreno Controverso
Fragilidade Epistemológica
Apesar de sua popularidade, a Constelação Familiar enfrenta críticas sobre sua falta de fundamentação científica. Diferentemente de abordagens psicológicas consagradas, suas bases teóricas carecem de validação empírica robusta, colocando-a à margem do que é aceito como ciência psicológica.
Conflitos com Preceitos Éticos
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) alerta para os riscos de integrar práticas como a Constelação Familiar ao repertório da Psicologia sem avaliação crítica. Entre os problemas identificados estão:
- Naturalização de desigualdades : uma abordagem de Hellinger tende a promover papéis de gênero patriarcais e posições familiares conservadoras.
- Estigmatização de orientações sexuais e identidades de gênero : Trechos das obras de Hellinger sugerem uma patologização de expressões não normativas, indo contra a perspectiva exclusiva na defesa pela Psicologia.
- Falta de sigilo e manejo inadequado : Sessões abertas e ausência de registros documentais violam diretrizes éticas essenciais à prática psicológica.
Impacto Psíquico e Risco
A Constelação Familiar pode desencadear estados de sofrimento psicológico sem oferecer suporte terapêutico adequado. Situações emergenciais que surgem durante as sessões desligadas o acompanhamento de profissionais capacitados, como psicólogos ou psiquiatras, algo frequentemente ausente nesse contexto.
Uso da Constelação Familiar em Políticas Públicas e no Sistema de Justiça
A inclusão da Constelação Familiar na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e sua aplicação em processos judiciais, especialmente em casos de violência doméstica, também são alvo de críticas.
- Redução de Conflitos Complexos : A técnica tende a individualizar problemas estruturais, como desigualdade de gênero e violência, diminuindo as questões interpessoais. Isso contraria legislações como a Lei Maria da Penha , que considera a violência doméstica um problema social sistêmico.
- Risco de Revitimização : Em contextos judiciais, a aplicação da Constelação pode expor vítimas a situações de revitimização, especialmente em casos de violência de gênero.
Posição do Sistema Conselhos de Psicologia
O CFP reafirma que a prática da Constelação Familiar, tal como proposta atualmente, é incompatível com a Psicologia, devido a:
- Incompatibilidade Ética e Técnica : A ausência de bases científicas reconhecidas e a dissonância com princípios éticos da profissão tornam seu uso inaceitável no exercício psicológico.
- Fiscalização Profissional : Técnicas emergentes devem passar por avaliação rigorosa antes de serem incorporadas ao repertório da Psicologia. O Sistema de Avaliação de Práticas Psicológicas Aluízio Lopes de Brito (SAPP) foi criado para esse propósito.
Orientação para Profissionais e Pacientes
Para Psicólogos
- Evite práticas não regulamentadas : A utilização de técnicas como a Constelação Familiar sem respaldo científico pode resultar em avaliações éticas e danos à substituição profissional.
- Promova práticas inclusivas : Baseie sua atuação em perspectivas despatologizantes e no respeito às diversidades.
Para Pacientes
- Busque informações : Antes de aderir a qualquer técnica terapêutica, verifique se ela está regulamentada e respaldada pela ciência.
- Exija transparência : Profissionais éticos examinados os métodos utilizados e seus limites.
Conclusão
A Constelação Familiar levanta importantes discussões sobre ética, ciência e práticas terapêuticas. Embora tenha seu espaço como abordagem complementar, sua aplicação no campo da Psicologia exige cautela, reflexão crítica e alinhamento com princípios científicos e éticos. Os psicólogos devem priorizar práticas validadas e que promovam saúde e bem-estar de forma inclusiva e responsável, protegendo tanto a integridade da profissão quanto aos indivíduos atendidos.
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