Justiça Reverte Justa Causa de Trabalhadora que Faltou ao Trabalho por Violência Doméstica

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A 19ª Vara do Trabalho do Fórum da Zona Sul de São Paulo proferiu uma decisão emblemática ao reverter a justa causa aplicada a uma trabalhadora que sofria violência doméstica. O caso, que trouxe à tona questões relacionadas à dignidade humana e à perspectiva de gênero no ambiente laboral, destaca a importância do acolhimento e da proteção a vítimas de violência doméstica no mercado de trabalho.

O Caso: Faltas ao Trabalho Motivadas por Violência Doméstica

A trabalhadora, que atuava em uma empresa de telemarketing, foi demitida por justa causa sob a alegação de desídia, devido a faltas injustificadas. No entanto, as investigações comprovaram que a profissional enfrentava uma situação delicada: era agredida pelo filho, dependente químico, que frequentemente a proibia de sair de casa.

Durante o processo, testemunhas confirmaram que os episódios de violência eram amplamente conhecidos na empresa. Uma delas chegou a relatar que viu a colega machucada e que, em algumas ocasiões, ela comparecia ao trabalho utilizando máscara para esconder os ferimentos.

A Decisão Judicial

Ao analisar o caso, a juíza Juliana Wilhelm Ferrarini Pimentel considerou que a demissão por justa causa não levava em conta o contexto excepcional enfrentado pela trabalhadora. Segundo a magistrada, a empresa, como grande empregadora de mulheres de baixa renda, deveria ter adotado uma postura de acolhimento e apoio, em vez de penalizá-la.

Fundamentos da Decisão:

  1. Perspectiva de Gênero: A juíza destacou a discriminação enfrentada por muitas mulheres vítimas de violência doméstica e afirmou que o caso exigia um olhar diferenciado por parte do julgador.
  2. Dignidade da Pessoa Humana: Foi ressaltado que, em situações de vulnerabilidade, a dignidade da pessoa deve prevalecer sobre interesses puramente administrativos.
  3. Função Social da Empresa: Empresas têm a responsabilidade de contribuir para a proteção integral da família e garantir condições dignas de trabalho.
  4. Proteção Integral da Família: A demissão agravaria ainda mais a situação da trabalhadora, privando-a de sua única fonte de renda.

Com base nesses princípios, a justa causa foi revertida para dispensa imotivada, determinando que a empresa pague todas as verbas rescisórias à trabalhadora. Ainda cabe recurso à decisão.

Impacto Social e Trabalhista

Esse caso é um marco nas relações trabalhistas, ao reforçar que empresas devem adotar práticas humanizadas e atentas às necessidades de seus colaboradores, especialmente em situações de vulnerabilidade. A decisão também traz à tona importantes reflexões sobre o papel das organizações no acolhimento de vítimas de violência doméstica.

Lições para Empresas:

  1. Apoio às Vítimas: É crucial que empresas desenvolvam políticas internas para identificar e apoiar colaboradores em situação de violência doméstica.
  2. Treinamento de Gestores: Líderes e supervisores devem ser capacitados para reconhecer sinais de vulnerabilidade e oferecer suporte adequado.
  3. Conformidade com Princípios Legais: Decisões como essa demonstram a importância de alinhar práticas empresariais aos princípios da dignidade, função social e proteção à família.

Reflexos para Trabalhadores:

  • Trabalhadores em situações semelhantes devem buscar apoio, tanto no ambiente laboral quanto em órgãos de proteção, e relatar os casos aos seus superiores.
  • A decisão reforça a necessidade de um olhar mais empático e humano nas relações de trabalho.

Conclusão

A reversão da justa causa de uma trabalhadora que faltou ao trabalho devido à violência doméstica destaca a necessidade de um olhar mais atento e acolhedor no ambiente corporativo. Empresas devem ir além do cumprimento da legislação trabalhista, adotando uma postura proativa na proteção de seus colaboradores, especialmente aqueles em situações de vulnerabilidade. Esta decisão reforça o papel social das organizações e serve como um alerta para que o mercado de trabalho seja um espaço seguro e inclusivo para todos.

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